sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ai Se Sêsse "Zé da Luz"


É mentira que as pessoas não gostam de poesia. O que há, a meu ver, é uma desastrada confusão a respeito do tema. Para a grande maioria, poemas são extensos conjuntos de versos rimados em “ão”. Escritos por algum tuberculoso que levou um fora da namorada, obrigatoriamente falam de amor e nada mais. Para agravar o problema, em geral só conhecemos a poesia através dos livros didáticos, que vêm atrelados a provas, tarefas, notas e boletins. E pior: os poemas mais divertidos encontram-se a quilômetros dos manuais. Não digo que Camões, Pessoa e Drummond sejam dispensáveis, mas sem dúvida há muito a se descobrir fora da sala de aula. Zé da Luz, por exemplo. Excetuando os entendidos e os sortudos, levante a mão quem já leu ou ouviu algum poema desse artista do cordel que nasceu em Itabaiana (PB) e faleceu já faz um tempinho, em 1965, no Rio de Janeiro. Simples e comoventes cheios daquela malícia típica do interior, seus textos imitam a fala sertaneja e tratam dos mais variados assuntos. “O que é Brasí Caboco?”, pergunta ele, para imediatamente responder com versos carregados de inocência e bairrismo: “É um Brasí diferente/ do Brasí das capitá./ É um Brasí brasilêro, sem mistura de instrangero,/ um Brasí nacioná!” Amei esta poesia, acho que merece um lugar no meu blog, o cordel do fogo encantado do nosso paraibano Zé da Luz, homem simples com um linguaja nordestino e cheio de inspiração.

Ai Se Sêsse
Se um dia nós si gostassi,Se um dia nós si queressi, Se nós dois si impariassi,Se juntinho nós dois vivessi,Se juntinho nós dois morassi
Se juntinho nós dois drumisse,Se juntinho nós dois morressi
Se pro céu nós assubisse,Mas, porém se acontecessi,De São Pedro não abrissi,A porta do céu a ponto,De eu dizer quarquer tulice,I si eu mi arriminasse,I tu cum eu insistissi,Pra qui eu mi arrezorvessi,I minha faca puxasse,E o bucho do céu furassi,Tarveis que nós dois ficassi,Tarveis que nós dois caissi,E o céu, furado arriassi,E as virges toda fugisse!